CEFALEIA, É UM PROBLEMA DE VISÃO

Publicado em 16 de novembro de 2023 às 14:20

A Cefaleia e Suas Possíveis Causas Relacionadas à Visão

 

A cefaleia, ou dor de cabeça, particularmente quando localizada nas proximidades dos olhos, é uma condição que a maioria das pessoas experimenta em algum momento das suas vidas. No entanto, é importante notar que a origem da dor pode não ser no próprio local onde a dor é percebida. Esse fenômeno ocorre devido à presença de uma complexa rede de fibras nervosas sensoriais que se estendem por todo o corpo, e quase todas as estruturas sensíveis à dor na cabeça têm conexões que levam a sensações de desconforto nas áreas circundantes aos olhos. Portanto, a dor nas proximidades dos olhos não indica necessariamente um problema ocular subjacente.

Se a esclera (parte branca do olho) não está vermelha e não há perda de visão, visão desfocada ou irregular não há razão para que a dor seja de origem ocular.

 

A causa mais comum de dores nas proximidades dos olhos, incluindo aquelas localizadas atrás dos olhos, é a enxaqueca sem aura, que é notória por ser extremamente debilitante. Este tipo de cefaleia pode persistir até 72 horas e frequentemente manifesta-se como uma dor intensa e pulsante que afeta um dos lados da cabeça, irradiando da região ao redor dos olhos para a parte posterior da cabeça. Além da dor, sintomas como náusea, fotofobia (sensibilidade à luz), sensibilidade aos sons e uma maior percepção de odores são comuns em episódios de enxaqueca.

Algumas vezes, distúrbios visuais, como halos em torno das luzes ou luzes piscantes, podem ser interpretados erróneamente como problemas oculares, mas, na verdade, são sintomas que, maioritariamente, precedem as crises de enxaqueca.

Várias variáveis podem desencadear a enxaqueca, incluindo fadiga, stress, falta ou excesso de sono, exposição a ruídos intensos, consumo exagerado de cafeína ou tabaco, alimentação inadequada e predisposição genética. Portanto, para aqueles que sofrem de enxaqueca, é essencial que busquem tratamento médico para prevenir ou reduzir a frequência e intensidade das crises.

Além da enxaqueca sem aura, há outros tipos de cefaleias, que são brevemente descritos:

  • A enxaqueca clássica, que dura aproximadamente três horas e frequentemente é acompanhada por aura. Nesse caso, a dor é aguda e pode irradiar para outras partes da cabeça, face e pescoço. Os olhos podem apresentar-se vermelhos, inchados, lacrimosos, e pode haver perda parcial da visão.

  • A enxaqueca sem dor de cabeça, que é acompanhada por distúrbios visuais, dor abdominal, náusea e vômito.

  • A enxaqueca basilar, que é mais comum em crianças e adolescentes e pode ser acompanhada de aura. Pacientes com esse tipo de enxaqueca frequentemente se queixam de perda de visão, diplopia (visão dupla), tonturas e náusea. A dor de cabeça em ambos os lados da cabeça pode-se manifestar de forma súbita.

  • A enxaqueca crônica, caracterizada por frequentes e intensas dores de cabeça de curta duração que podem persistir por semanas ou meses, alternando com períodos de remissão, nos quais os pacientes permanecem sem dor de cabeça por meses ou até anos. Atualmente, acredita-se que a enxaqueca tenha origem no hipotálamo e, embora ainda não haja cura definitiva, o tratamento visa reduzir a intensidade e a frequência desta dolência. Oxigenoterapia, triptanos (medicamentos à base de triptamina) e analgésicos são as opções de tratamento médico mais comuns.

Vale ressaltar que as enxaquecas frequentemente são confundidas com sinusite, uma condição que envolve inflamação dos seios paranasais e requer tratamento com antibióticos e descongestionantes.

Após esta análise aprofundada da enxaqueca, é relevante explorar as dores de cabeça relacionadas com problemas oculares:

 

A. Glaucoma: Este é um distúrbio ocular grave, notável pelo fato de ser geralmente assintomático. O glaucoma afeta o nervo óptico e leva a uma perda de visão progressiva e irreversível, começando pela visão periférica e avançando em direção à visão central. No entanto, o glaucoma agudo é uma situação crítica, pois pode provocar danos irreversíveis no nervo óptico e, consequentemente, uma perda de visão abrupta e irreparável. O glaucoma agudo exige atenção médica urgente.

B. Olhos Secos: Embora não haja uma relação direta estabelecida entre olhos secos ou lacrimejantes e dor de cabeça,  um estudo publicado no Canadian Journal of Ophthalmology, identificou que as pessoas com enxaqueca frequente apresentavam níveis mais elevados de sal em suas lágrimas. O excesso de sal nas lágrimas pode levar ao ressecamento ocular.

C. Esclerite: A esclerite é uma inflamação grave da esclerótica (a parte branca do olho), que pode causar dor de cabeça na região ao redor do olho. Outros sintomas incluem intenso olho lacrimejante, olhos vermelhos, sensibilidade à luz e visão desfocada.

D. Neurite Óptica: Esta é uma inflamação grave do nervo óptico, que pode causar dor de cabeça na região ao redor dos olhos, visão flutuante e desfocada, perda de visão, perda da capacidade de distinguir cores e náuseas.

E. Doença de GravesEsta é uma doença autoimune que afeta a tiróide. Manifesta-se por olhos proeminentes, avermelhados, limitação dos músculos oculares, visão dupla e desfocada. Além disso, a doença de Graves pode ser acompanhada por dor de cabeça próxima dos olhos.

F. Problemas Refrativos e da visão binocular: Embora não sejam doenças oculares, problemas de refração, como astigmatismo, hipermetropia e presbiopia, podem resultar em visão turva, visão dupla, fadiga ocular, problemas de aprendizagem, dores no pescoço e dores de cabeça.

A heteroforia vertical é conhecida também como uma das origens da dor de cabeça acompanhada de ansiedade e tonturas.

G. Falta de Ergonomia Visual: A falta de iluminação adequada e, especialmente, posturas corporais inadequadas durante a utilização de dispositivos digitais são fatores de risco que podem aumentar a frequência de dores de cabeça. Quando a esses fatores se somam os problemas refrativos, o resultado pode ser incapacitante, tornando desafiador realizar tarefas cotidianas, como a leitura de um livro por mais de 10 minutos.

H. Pequenos Estrabismos: Pequenos estrabismos podem se manifestar após muitos anos ou quando há um aumento na demanda visual, como leitura prolongada ou uso contínuo de computadores. Pacientes com microestrabismos podem experienciar diplopia ou visão dupla quando estão sob esforço visual constante para obter uma imagem nítida e única.

I. Problemas Refrativos Mal Corrigidos: Nem sempre a prescrição ótica que mais se aproxima da visão natural é a mais apropriada. Em muitos casos, é essencial adaptar a correção refrativa gradual, levando em consideração as necessidades individuais do paciente.

J. Lentes Progressivas Mal Adaptadas ou de Baixa Qualidade: Um erro comum é a má marcação dos centros ópticos nas lentes progressivas, o que pode resultar em desconforto visual. É aconselhável escolher lentes de marcas reconhecidas, que garantam um amplo campo de visão e utilizem tratamentos anti-reflexo que proporcionem uma visão nítida e confortável.

 

É crucial observar que, em casos de dor de cabeça intensa associada a olhos vermelhos, pupilas não que não respondem à luz, náuseas e distúrbios visuais, é imperativo buscar atendimento médico oftalmológico de urgência. Esses sintomas podem indicar uma condição séria que requer avaliação e tratamento imediatos.

 

Dra. Sofia Cunha

Optometrista e CEO IAOM